Manaus (AM) — Indígenas da etnia Marubo, que vivem no Vale do Javari, no interior do Amazonas , estão processando o jornal norte-americano The New York Times. A ação judicial foi protocolada nesta quinta-feira (22/5) em um tribunal de Los Angeles (EUA). Eles pedem uma indenização de aproximadamente US$ 180 milhões, equivalente a R$ 1 bilhão, por danos morais causados por fake news.
A polêmica gira em torno de uma reportagem publicada em junho de 2024. O texto associa o uso da internet via Starlink em comunidades indígenas a supostos vícios em pornografia, jogos violentos e abandono de práticas culturais. Segundo os indígenas, esse conteúdo é ofensivo, generalista e repleto de preconceitos.
Reportagem reforça estereótipos, dizem indígenas A matéria, assinada por Jack Nicas, ex-chefe do NYT no Brasil, foi duramente criticada pelos Marubo. De acordo com o processo, o jornal retrata os indígenas como incapazes de lidar com a internet e sem valores morais suficientes para viver em um mundo moderno.
Além disso, os indígenas destacam que a reportagem contribui para reforçar estereótipos antigos. Eles alegam que o conteúdo prejudica a imagem de um povo que, apesar dos desafios, tem buscado integrar a tecnologia de forma consciente e respeitosa à sua cultura.
Outros sites também são alvos do processo O processo não se limita ao The New York Times. TMZ e Yahoo, que republicaram o conteúdo com ainda mais sensacionalismo, também estão sendo processados. Segundo a ação, esses portais aumentaram o alcance das fake news, ampliando o impacto negativo sobre a imagem dos Marubo.
Portanto, os indígenas exigem reparação não apenas por danos morais, mas também por difamação e violação de seus direitos coletivos à honra e à autodeterminação.
Jovens indígenas reagem com firmeza Em resposta, a Rede de Estudantes Indígenas do Vale do Javari (Rede Reivaj) divulgou uma nota pública de repúdio. A organização criticou o tom paternalista da reportagem e afirmou que os jovens indígenas são perfeitamente capazes de usar a internet de forma crítica e construtiva.
“Repudiamos a postura preconceituosa que desconsidera a autonomia dos jovens do Vale do Javari. Somos capazes de escolher como, quando e por que utilizar a tecnologia”, diz o texto.
Além disso, a nota afirma que os Marubo têm plena consciência dos desafios da conectividade e os enfrentam com responsabilidade.
Verdadeiros problemas são ignorados Enquanto o jornal dá destaque a um suposto “vício em pornografia”, os indígenas alertam para problemas reais e urgentes. Entre eles, estão a invasão de terras indígenas, a falta de atendimento de saúde e a ausência de políticas públicas.
Por outro lado, a chegada da internet via Starlink tem representado avanços em comunicação e acesso à informação para comunidades historicamente isoladas. No entanto, isso é ignorado pela reportagem, segundo a Rede Reivaj.
Processo pode abrir precedente histórico A ação movida pelos Marubo é considerada um marco na luta dos povos indígenas pela preservação de sua imagem, dignidade e direitos. Além disso, o caso pode abrir precedentes importantes para a responsabilização de veículos internacionais que disseminem informações ofensivas ou distorcidas.
Até o momento, The New York Times, TMZ e Yahoo ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o processo.
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